Há que se refletir. Mas, como afirmou Perseu Abramo, “É dia de LUTO e de LUTA”. Luto pelos mártires de Chicago e pelas centenas de trabalhadores franceses e estadunidenses mortos na luta pela redução da jornada de trabalho. Luta, pela melhoria dos salários e condições de trabalho; em homenagem a eles, que deram suas vidas pela causa de todos os trabalhadores. Que suas mortes não sejam em vão. NUNCA.
Mártires de Chicago - Parsons, Engel, Spies e Fischer: enforcados. Lingg (centro): suicídio na prisão
Todo feriado e data comemorativa têm sua história, sua origem. O dia 1º de maio também, mas sua história não é lembrada, como ocorre com outras datas. Comemora-se, mas está perdendo a sua essência por encararmos apenas como mais um dia de descanso, um dia dedicado a nós, trabalhadores, como se o Estado e o patronato tivessem resolvido fazer essa “caridade” para com a massa trabalhadora, como se eles se importassem conosco. O Estado espera de nós apenas produção e impostos; o patronato, produção para que eles lucrem. Estado e patronato estão unidos por interesses próprios, e nós, trabalhadores, estamos unidos?
Se é dia do TRABALHO, é dia de produção para o PATRÃO. Se é do TRABALHADOR, que arregacemos as mangas em prol de NOSSOS INTERESSES
Mas afinal de contas, no dia 1º de maio comemoramos o que: o dia do TRABALHO ou DO TRABALHADOR? Faz diferença? Faz toda diferença. Se é DO TRABALHO, trabalhemos, então, para aumentar o lucro do patrão e, consequentemente, a arrecadação do Estado. Não faz sentido que o dia do trabalho seja feriado e não se trabalhe; mas se é DO TRABALHADOR, aí sim: feriado e dia dedicado ao trabalhador.
Mas por que no dia 1º de maio? A história começa com uma manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago-EUA, em maio de 1886 - época em que não havia descanso semanal, férias ou aposentadoria. Por conta própria, os trabalhadores procuravam se organizar de várias maneiras, entre elas, caixas de auxílio mútuo - precursoras dos primeiros sindicatos - que iniciaram as primeiras campanhas e mobilizações em busca de melhores salários e da redução da jornada de trabalho que, durante o final do século XVIII e século XIX, chegava a absurdas 17 horas diárias nas indústrias da Europa e dos Estados Unidos. Por ser um dos principais pólos industriais estadunidense, Chicago era também berço de grandes centros sindicais formados, principalmente, por trabalhadores de tendências socialistas, anarquistas e social-democratas.
No início do ano de 1886, intensa greve operária eclodiu em Chicago e, no dia 03 de maio, durante uma das manifestações, a polícia disparou contra os operários, deixando um saldo final foi de seis mortos, 50 feridos e centenas de operários presos. Na tarde do dia seguinte, pela convocação de Spies, foi realizada uma concentração que, apesar dos pedidos de calma pelos líderes, após o ataque de um grupo de 180 policiais que espancaram e pisotearam os manifestantes, uma bomba estourou no meio dos guardas, matando vários deles e ferindo cerca de 60. Nova investida com tiros contra os manifestantes foi realizada com a chegada dos reforços e centenas de pessoas de todas as idades acabaram morrendo.
Manifestação em Chicago - 1886 1
A repressão aumentou e foi decretado “Estado de Sítio”. Em meio a várias barbaridades, a justiça burguesa iniciou um julgamento dos líderes do movimento, no dia 21 de junho e, com provas e testemunhas inventadas e, no dia 9 de outubro, decretou pena de morte por enforcamento para Albert Parsons, Georg Engel, Adolph Fischer, Louis Lingg e August Spies, que foram executados - com exceção de Lingg, que cometeu suicídio antes - em 11 de novembro; prisão perpétua para Sam Fieldem e Michel Schwab; quinze anos de prisão para Oscar Neeb. Seis anos depois, devido às ondas de protestos contra a iniquidade do processo, o governo de Illinois anulou a sentença e libertou Fieldem, Schwab e Neeb, os três lideres sobreviventes da injustiça burgo-capitalista do início dessa fatídica história.
Mais Valia - O empregador não quer que o trabalhador “ACORDE” para sua real condição
No dia 20 de julho de 1889, a segunda Internacional Socialista se reuniu em Paris e decidiu, em homenagem às lutas sindicais de Chicago, fazer manifestações anuais em 1º de maio pela luta da jornada de 8 horas de trabalho diária. No dia 1º de maio de 1891, em manifestação no norte da França, em ação policial para dispersar os manifestantes, dez deles acabaram morrendo, reforçando o 1º de maio como dia de luta dos trabalhadores e, alguns meses depois, em Bruxelas, a Internacional Socialista proclama esta data como “Dia Internacional de Reivindicação de Condições Laborais”. Em 1919 a França proclamou o dia 1º de maio deste ano como feriado; em 1920 a Rússia adota o dia como feriado nacional, exemplo seguido por muitos países, menos Estados Unidos, que não o reconhece até hoje a data como Dia do Trabalhador, apesar de que, em 1890, essa luta conseguiu fazer com que o Congresso estadunidense reduziu a jornada de trabalho de 16 para 8 horas diárias. No Brasil a data é comemorada desde 1895, mas só virou feriado nacional 30 anos mais tarde, através do Decreto 4.859, de 26 de setembro de 1924; a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), foi decretada em 1º de maio de 1943.
Em homenagem aos mártires estadunidenses condenados por lutarem pela justiça social e contra a escravidão do trabalhador, encerro citando os últimos discursos/defesas históricas de dois deles e com a reflexão de Perseu Abramo:
“Se com o nosso enforcamento vocês pensam em destruir o movimento operário - este movimento de milhões de seres humilhados, que sofrem na pobreza e na miséria, esperam a redenção - se esta é sua opinião, enforquem-nos. Aqui terão apagado uma faísca, mas lá e acolá, atrás e na frente de vocês, em todas as partes, as chamas crescerão. É um fogo subterrâneo e vocês não poderão apagá-lo!”
August Spies
“Arrebenta a tua necessidade e o teu medo de ser escravo, o pão é a liberdade, a liberdade é o pão”. Fez um relato da ação dos trabalhadores, desmascarando a farsa dos patrões com minúcias e falou de seus ideais: “A propriedade das máquinas como privilégio de uns poucos é o que combatemos, o monopólio das mesmas, eis aquilo contra o que lutamos. Nós desejamos que todas as forças da natureza, que todas as forças sociais, que essa força gigantesca, produto do trabalho e da inteligência das gerações passadas, sejam postas à disposição do homem, submetidas ao homem para sempre. Este e não outro é o objetivo do socialismo!”.
Albert Parsons
“A história do Primeiro de Maio mostra, portanto, que se trata de um dia de luto e de luta, mas não só pela redução da jornada de trabalho, mas também pela conquista de todas as outras reivindicações de quem produz a riqueza da sociedade.”
Perseu Abramo
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